Fazer mais. Nos últimos meses, o Crea-SP reforçou seu compromisso com as empresas e os profissionais registrados, reafirmando seu papel de parceiro na construção de um futuro mais eficiente, mais conectado e mais sustentável.
Tendo pela primeira vez uma mulher à frente de sua gestão em 90 anos de história, o Conselho estabeleceu novas parcerias, desenvolveu novas iniciativas e consolidou seu protagonismo nos debates que impactam diretamente a sociedade. Veja a seguir alguns dos destaques do ano.
Fiscalização
A atividade-fim do Conselho ganhou novo fôlego com o reforço de parcerias importantes: com a Seclima e a participação nas Operações Integradas de Defesa das Águas (OIDA) e com os inspetores, cuja qualificação foi o foco dos encontros realizados em São Carlos e São Sebastião.
Além da capacitação promovida durante o treinamento do SEFISC em Bragança Paulista, o trabalho desenvolvido em São Paulo ganhou projeção federal com a participação do corpo técnico do Conselho paulista na Força Tarefa Nacional de Fiscalização promovida pelo Confea, ocasião em que as boas práticas desenvolvidas no Estado foram compartilhadas com os Creas de todo o país.
Parcerias
Juntos somos mais fortes, é verdade. E o Crea-SP sabe disso. Além de seguir valorizando as conexões de longa data com o Conselho Federal, as entidades de classe (com destaque para as 13 declarações de utilidade pública obtidas) e o Tribunal de Contas do Estado, novas parcerias seguem surgindo, sempre com o intuito de melhorar os serviços oferecidos ao seu público.
Da aproximação com o governo federal, quando a relação entre a valorização profissional e o desenvolvimento do país se evidenciou, à conquista de novos parceiros, como a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado (um marco ambiental ao contabilizar 100 mil Cadastros Ambientais Rurais – CARs efetivados) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), essa capacidade de articulação já está ampliando o campo de atuação do Conselho e oferecendo novas oportunidades aos profissionais registrados.
Atendimento
O olhar diferenciado que o Conselho aplicou ao longo do ano em direção ao seu público-alvo, majoritariamente formado pelas empresas e pelos profissionais registrados, vem ao encontro daquilo que foi estabelecido como prioridade pela atual administração: desburocratizar e oferecer um atendimento de qualidade.
Do primeiro passo, que foi ouvir e entender as reais necessidades desse público, à ação, implementando uma série de melhorias com impacto imediato na rotina profissional de milhares de pessoas, foram muitas as conquistas: a centralização da gestão de processos e documentos no SEI! e das solicitações de registro no CreaNet; ajustes finos no sistema de ART, como a assinatura on-line e a atualização do sistema da CAT; e o projeto que vai criar um fluxo próprio para as instituições de ensino superior atualizarem suas informações.
Sustentabilidade
O Conselho segue empenhado em fazer a sua parte para construir um mundo mais sustentável: é signatário da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e, pautado pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), vem focando suas ações em políticas de meio ambiente, responsabilidade social e governança (ESG).
Da promoção desse debate durante a realização do 5º Encontro Paulista de Engenharia Ambiental e do evento “Meio Ambiente: Restauração e Reabilitação de Rios Urbanos”, à preparação do Manual Orientativo de Fiscalização de Energias Renováveis, o Crea-SP também partiu para ações práticas: o lançamento do projeto piloto “Carbono Neutro” em Franca e o plantio de 150 mudas de árvores nativas na Zona Leste da Capital paulista são iniciativas que visam à compensação ambiental.
90 anos
Nove décadas em atividade: por trás dessa marca expressiva existe um Conselho que, experiente, busca se reinventar e olhar para o novo. O aniversário aconteceu em maio, mas a celebração se estendeu pelo ano todo.
Das iniciativas próprias, com o marco histórico de ter a primeira presidente mulher, desenvolvendo e estimulando cargos de lideranças dentro e fora do Conselho, às homenagens dos parceiros, o Crea-SP reafirmou sua missão de salvaguardar a sociedade, entendendo que isso só é possível graças às ações e ao comprometimento de pessoas. É nas memórias construídas pelos profissionais da área tecnológica do Estado que o Conselho segue contando sua própria história.
Equidade
Os 90 anos do Crea-SP marcaram também o primeiro ano de uma mulher eleita para estar à frente de sua gestão: a engenheira Ligia Mackey e seu comprometimento em melhorar a experiência de profissionais e empresas na utilização dos serviços do Conselho.
Os impactos desse feito histórico impulsionaram outras frentes: dobrou o número de mulheres na composição da Diretoria, o Comitê Gestor do Programa Mulher ampliou o alcance de suas iniciativas e de seu poder de fala, duas profissionais de São Paulo foram reeleitas para o Conselho Deliberativo da ABNT e, somado a isso, o Crea-SP assumiu o compromisso de combater a violência e promover os direitos das mulheres em atendimento à norma ABNT PR 1019.
Aprimoramento
Completando cinco anos de existência, o Crea-SP Capacita alcançou seu amadurecimento: a plataforma do programa de formação continuada ganhou uma reformulação completa, não apenas visual, mas principalmente de conteúdo para, assim, oferecer uma melhor experiência no processo de difusão de conhecimento.
Rompendo fronteiras, o Conselho sediou o 1º Seminário de Capacitação Internacional do Sistema Confea/Crea e Mútua, que teve a participação da Sociedade Americana de Engenheiros Civis e sinalizou para um possível intercâmbio internacional, ampliando as possibilidades de aprimoramento para os profissionais.
Valorização
Os profissionais não estão sozinhos: o Crea-SP segue de olho em editais e concursos públicos que oferecem oportunidades na área tecnológica, mas não vêm observando os requisitos mínimos garantidos por lei.
O respeito ao piso salarial em Pacaembu, Araçoiaba da Serra, São Carlos e Pirassununga (entre mais de 30 mobilizações do Conselho), a equiparação de geólogos e engenheiros geólogos, o acordo histórico que garantiu acesso ilimitado à visualização das normas ABNT, a inclusão de docentes entre os agraciados com o Prêmio Crea-SP e a criação do Banco de Talentos são apenas alguns dos exemplos da participação do Conselho em iniciativas que visam garantir novas oportunidades aos profissionais e às empresas da área tecnológica.
Inovação
O ano marcou a consolidação do projeto CreaLab São Paulo, a plataforma que conecta pessoas, organizações e startups que estejam em busca de inovação. Maratonas de tecnologia que desafiam seus participantes a encontrar soluções inovadoras fazem parte da iniciativa, como o Ideathon.
O principal braço físico dessa empreitada é a rede de unidades de coworking, espaços de trabalho que funcionam gratuitamente por agendamento por todo o Estado. Durante o ano, foram inaugurados novos pontos em Sorocaba, São Roque, Mogi Guaçu, Guarulhos, São José do Rio Pardo, Espírito Santo do Pinhal, Cotia, Mauá, Artur Nogueira e Ribeirão Pires, fechando o ano com 33 unidades já em funcionamento.
Políticas Públicas
Promover debates que estimulem a busca por soluções para as principais dores dos municípios e de sua população e, assim, garantir o protagonismo dos profissionais nas decisões que impactam diretamente a sociedade tem sido a tônica dos encontros que o Conselho vem realizando para reunir, em uma mesma arena, área tecnológica e poder público.
O Fórum de Políticas dividiu-se entre Taubaté, Adamantina, Mogi Mirim, Ribeirão Preto e São Paulo para cobrir 100% do território estadual na proposição de cidades mais inteligentes. Já o Fórum de Planejamento Urbano concentrou-se na Capital paulista para focar no crescimento sustentável do Estado e trouxe a experiência da cidade colombiana de Medellín, parâmetro mundial em inovação urbana e resiliência social.
Painel Online é o boletim informativo da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Marília
Edição de Novembro 2025
Diretoria
CONSELHO ADMINISTRATIVO
Eng. Civil Vitor Manuel C. de Sousa Violante
Presidente
Eng. Agrônomo Nelson Martins Barreto Júnior
Vice Presidente
Eng. Agrônomo Walter Cação Júnior
Administrativo
Eng. Civil Haroldo de Mayo Bernardes
Adj.Administrativo
Eng. Eletricista Edson Navarro
Financeiro
Eng. Eletricista Antônio Carlos N. de Souza Júnior
Adj. Financeiro
Eng. Agrônomo Caetano Motta Filho
Social
Arquiteta Clédina Emiko Yamashita
Adj. Social
Eng. Civil Rúbio Galharim
Esportes e Lazer
Eng. Civil Leonardo Mathias Rampinelli
Adj. Esportes e Lazer
Eng. Civil Filipe Ceolin de Abreu
Cursos e Palestras
Eng. Civil James Lancaster D. de Moraes Salles
Adj. De Cursos e Palestras
Eng. Civil Nivaldo João da Cruz
Patrimônio
Arquiteta Larissa Yuri Ishi Amaral
Adj. De Patrimônio
Eng. Agrônomo Joaquim R. Mendonça Junior
Comunicação
Eng. Civil Lorena Sabaini da Silva
Adj.Comunicação
Jornalista-responsável Ramon Barbosa Franco – Mtb 32.103
Reportagens Mariano Rocha
1/11
Laércio dos Santos Mazine
3/11
Humberto Trindade Silva
4/11
Efraim Antonio Caprioli
4/11
Ronaldo Maria Dantas de Maio
7/11
Carlos Stevanato Junior
7/11
Jéssica Soares da Silva
8/11
Leonardo Mathias Rampinelli
13/11
Mariane Rocha Miranda
13/11
Norimasa Kato
14/11
Andressa Marqueze da S. L. de Moraes
15/11
José Denilson da Silva
15/11
Paulo Cesar Sândalo
18/11
Luis Carlos Rodrigues
19/11
Diego Anísio Modesto
20/11
João Augusto de Oliveira Filho
20/11
Luiz Fernando Fogaça Viggiani
20/11
Maria Genoveva Abud Fadel Silverio
20/11
Renato Cesar Buranello
21/11
Rafael Peloso
29/11
Archimedes de Grande Filho
29/11
Newton de Assis Pinto
30/11
Marcelo Naoki Ikeda
É com grande satisfação que divido este espaço para refletir sobre um tema que considero essencial para o desenvolvimento de nossa engenharia: a relevância do associativismo para o CREA. Nós, profissionais das áreas tecnológicas, entendemos que o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) é o pilar da regulamentação e fiscalização de nossas atividades.

Contudo, é no espírito de união e colaboração das Associações que encontramos a força motriz para potencializar e humanizar essa relação. O associativismo não é apenas um complemento, é o elo vital que liga o profissional ao órgão regulador, garantindo que nossas vozes e necessidades sejam efetivamente ouvidas.
Em Marília, o mês de outubro nos presenteou com eventos que ressaltaram essa sinergia. Tivemos a honra de receber não apenas o Crea Day, um momento tradicional de estreitamento de laços com a categoria, mas também a ilustre presença da própria presidente do CREA São Paulo, Lígia Mackey. É um marco histórico que merece destaque: Lígia é a única mulher a presidir a entidade em seus 90 anos de história, e sua visita fortaleceu nosso sentimento de representatividade e a certeza de que a inovação e o diálogo estão no centro da gestão do Conselho.
A presença da presidente em nossa cidade reforça a importância das associações como braços do CREA na base. Somos o ponto de contato diário, o local onde as pautas locais ganham forma e são encaminhadas para a esfera estadual. Essa troca é fundamental para que o Conselho não se limite à fiscalização, mas se torne um agente de desenvolvimento profissional, oferecendo capacitação, networking e apoio aos profissionais. O associativismo, portanto, é a via de mão dupla que garante a vitalidade e a pertinência do CREA em todo o estado.
Pensando em valorizar essa vitalidade, a AEA Marília tem o prazer de anunciar que, agora em novembro, repetiremos uma tradição que iniciamos em 1992: a homenagem aos Profissionais do Ano. Este evento é o reconhecimento público daqueles que, por seu mérito e dedicação, elevam o nome de suas profissões e contribuem significativamente para a sociedade. É um momento de celebração do talento e da excelência que permeiam nossas áreas de atuação.
Neste ano de 2025, os profissionais eleitos para receberem essa honraria são verdadeiros exemplos em suas áreas. Quero parabenizar publicamente o engenheiro civil Eduardo de Almeida, o engenheiro agrônomo Pedro Losasso e a arquiteta e urbanista Flávia Ohoseki. Suas trajetórias demonstram o impacto positivo que a Engenharia, a Agronomia e a Arquitetura trazem para o nosso desenvolvimento urbano e rural, e homenageá-los é celebrar o futuro promissor que construímos juntos.
Em suma, a relação entre o associativismo da AEA Marília e o CREA-SP é de parceria e complementariedade. Juntos, garantimos que a profissão seja exercida com ética e competência, ao mesmo tempo em que reconhecemos e celebramos o valor inestimável de nossos profissionais. Meu compromisso como presidente é continuar fortalecendo essa união, garantindo que o CREA continue a ser o alicerce e as associações, o motor do progresso de nossas categorias.
Engenheiro civil Victor Manuel Carvalho Sousa Violante
Presidente da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Marília (AEA Marília)
A Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Marília, a AEA Marília, recepcionou nesta terça-feira, dia 14 de outubro de 2025, a presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea São Paulo), Lígia Mackey, e estudantes universitários de vários cursos de Engenharia de universidades de Marília para a imersão Crea Day. A diretoria da AEA Marília organizou uma recepção aos participantes. O secretário-adjunto de Meio Ambiente, Rodrigo Más, representou o prefeito de Marília e ex-deputado Vinicius Camarinha.
“Trago um abraço do prefeito Vinicius Camarinha nesta manhã de intensa atividade e agradeço ao convite do Crea São Paulo e da AEA Marília para estarmos aqui, prestigiando o Crea Day. Os engenheiros são fundamentais para superar os desafios de uma cidade, auxiliando diretamente para que possamos construir municípios resilientes”, declarou o secretário Mas ao discursar na abertura do Crea Day.
O presidente da AEA Marília, Vitor Violante, contextualizou o evento. “O Crea Day é uma reunião onde congregamos os acadêmicos de último ano e os profissionais. A imersão permite que os estudantes universitários possam conhecer como funciona o Crea SP, inclusive participando de uma fiscalização na prática”, afirmou.
A programação incluiu palestras proferidas pelo chefe da inspetoria do Crea São Paulo em Marília, engenheiro Regis Santos, e da engenheira especialista em tecnologia do concreto, Gabi Ribeiro, que abordaram as profissões abrangidas pelo Crea e o futuro profissional. “Sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho”, orientou Gabi Ribeiro aos estudantes.
Lígia Mackey, primeira mulher a presidir o Crea-SP em seus 90 anos de história, liderou a imersão. A engenheira civil de Rio Claro, que antes de ser presidente foi conselheira e diretora da entidade, destacou a importância da atividade. Eleita com quase 70% dos votos em 2023, ela expressou ser uma honra estar à frente do Crea-SP, o maior conselho de classe da América Latina, que concentra 380 mil profissionais e mais de 100 mil empresas.
A presidente explicou que o Crea Day é um dia para os estudantes universitários realmente vivenciarem o conselho, e a atividade é sempre feita em parceria com uma associação de classe. “Hoje estamos aqui em Marília, na AEA. O associativismo é importante para estarmos unidos para um conselho melhor”, disse Mackey, reforçando que a iniciativa visa despertar nos estudantes a relevância de participarem de uma associação de profissionais, como a AEA Marília. Durante a visita, a presidente conheceu a construção do *coworking* da AEA Marília, que conta com apoio do Crea-SP e faz parte da política de suporte aos profissionais, que poderão utilizar o espaço gratuitamente. A AEA Marília, sediada na rua Mecenas Pinto Bueno, nº 1207, no bairro Maria Izabel, promoveu a programação das 9h30 às 16 horas.
Fala, galera!
Os estudantes de Engenharia de Produção da Univen manifestaram satisfação com a experiência. Rebeca Castiglione Silva, aluna da Univen, afirmou que a imersão foi muito positiva. “Estou achando uma experiência muito boa. Acredito que realmente vai contribuir muito para a minha formação no futuro. É um momento muito legal que a gente tem para conhecimento e para fazer o networking ali com o pessoal. Não tinha dimensão do que era o Crea antes, então foi bem esclarecedor”, disse.
Grace Kelly, também de Engenharia de Produção da Univen, ressaltou o aprendizado. “Foi muito bacana. Ela [a presidente Lígia Mackey] mostrou para a gente o trabalho do Crea dentro da área da Engenharia, tivemos um bate-papo, falou bastante coisa, deu bastante visão. Deu para direcionar o ramo que você quer atuar assim que se formar”, comentou.
Bárbara Almeida, aluna do quarto ano do mesmo curso, reforçou que o evento é importante para o entendimento da profissão. “Foi um evento diferente que a gente não teve essa participação antes. Foi interessante para a gente justamente entender a atuação do Crea no mercado e lugares que a gente pode conseguir trabalhar ou não”, pontuou.
Michelle Scheder Maranho, também da Univen, comentou sobre o contato direto com a presidente. “Na verdade, é bem esclarecedor, porque muitas vezes a gente sabe que precisa ter o Crea para estar exercendo a nossa função, mas não sabe como ele atua, como funciona, o que faz, quais os benefícios. A conversa com ela foi muito legal, porque ela é uma pessoa muito acessível”, relatou Michelle.
A estudante também destacou que a imersão trouxe informações sobre o programa de estágio do Crea, que será realizado no próximo ano e não terá custo para os participantes. Após as palestras, os estudantes seguiram para uma visita técnica à indústria Marilan, uma das maiores do Brasil, para conhecer de perto os processos e o pensamento de uma multinacional, segundo as universitárias.
(Crédito das fotos: Ramon Barbosa Franco, MTB 32.103)
O Brasil ocupa a quarta posição entre os maiores consumidores de fertilizantes do mundo. Em maio de 2025, foram entregues ao mercado nacional 3,7 milhões de toneladas do produto, um salto de 13,8% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Os dados são da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA). No acumulado dos cinco primeiros meses do ano, o consumo já ultrapassou 15,8 milhões de toneladas, evidenciando a dependência crescente de insumos químicos importados para sustentar a produção agrícola.
A demanda deve aumentar nos próximos anos visto que o país tem potencial para responder por quase metade da produção mundial de alimentos. O panorama influencia e impulsiona empresas e pesquisadores brasileiros a buscarem alternativas mais sustentáveis e acessíveis, como os remineralizadores de solos (REM). Os profissionais da área tecnológica podem ter a chave para acelerar soluções escaláveis, transformando agrominerais silicáticos (AGSi) em insumos que devolvem vitalidade ao solo, reduzem a dependência externa de fertilizantes e abrem novas frentes para a sustentabilidade econômica e ambiental. Tal inovação pode melhorar a produtividade agrícola e reforçar o protagonismo brasileiro na busca por práticas alinhadas aos compromissos climáticos globais.
“O Plano Nacional de Fertilizantes (PNF-2050) indica que precisaremos de aproximadamente 75 milhões de toneladas anuais para remineralizar toda a área agricultável do país. Portanto, serão necessários investimento e financiamento da indústria de produção de REM. Precisamos também ampliar o conhecimento e aumentar a difusão e transferência de aprendizados no meio técnico, produtivo e científico”, contou a doutora Gisele Freitas Vilela, engenheira agrônoma e pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Territorial.
Para despontar nesse cenário, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) lançou recentemente o painel interativo ‘Informe de Recursos Minerais — Avaliação do Potencial Agromineral do Brasil: Estado de São Paulo — Fase I’, como parte da série Insumos Minerais
para Agricultura do Programa Mineração Segura e Sustentável.
O estudo tem como destaque os agrominerais silicáticos, rochas derivadas de materiais silicatados que podem ser utilizados como remineralizadores ou fertilizantes silicáticos (FSi). Esses insumos, classificados como fertilizantes minerais, são alternativas sustentáveis ao uso de produtos químicos tradicionais. De acordo com o SGB, ainda que os resultados sejam promissores, os materiais passarão também por testes agronômicos controlados, com diferentes tipos de solos e culturas, etapa essencial para validar a eficiência agrícola.
“O painel mostra como os finos de britagem e outros materiais da mineração podem ser aproveitados na agricultura. “É uma ferramenta que pode ajudar produtores a reduzir custos e dar suporte a políticas públicas voltadas para a agricultura regenerativa e a sustentabilidade na mineração”, afirmou a geóloga Alessandra Elisa Blaskwski.
“O Plano Nacional de Fertilizantes (PNF-2050)
indica que precisaremos de aproximadamente 75 milhões de toneladas anuais para remineralizar toda a área agricultável do país”. Engenheira agrônoma Gisele Freitas Vilela
Os finos de britagem ou pó de rocha são os materiais rochosos triturados, com granulometria fina, produzidos no processo de britagem de pedreiras.
O geólogo Marcos Domingues Muro, coordenador da Câmara Especializada de Geologia e Engenharia de Minas (CAGE) do Crea-SP, explica que esses materiais, quando moídos, liberam lentamente macro e micronutrientes e rejuvenescem solos degradados. “A combinação de pó de rocha com matéria orgânica faz acelerar a disponibilização de nutrientes, criando um sistema fechado de fertilidade. Além disso, identificar rochas e áreas com fontes locais potenciais de agrominerais pode reduzir a dependência de insumos, visto que boa parte dos fertilizantes químicos são importados”, detalha Muro.
“Para se conseguir alta eficiência, a Agronomia define em que faixas de tamanho as partículas devem ser reduzidas. Cabe à Engenharia de Minas apontar a melhor solução para esta obtenção, com o mínimo de
custos”, complementa o professor doutor José Renato Baptista de Lima, engenheiro de Minas e coordenador adjunto da CAGE.
Apesar dos avanços, ainda existem entraves a serem superados. “A pesquisa é pouco valorizada no Brasil e, sem ela, não se criam aplicações de remineralizadores com sucesso que motivem os empresários a investir”, analisa de Lima.
Gisele pontua que é necessário conhecer a realidade de quem planta para então somar sustentabilidade ao desempenho. “É muito importante que toda a cadeia esteja alinhada na garantia da qualidade e desempenho na produção agrícola. A expansão na adoção do uso dos REM tem ocorrido em grande parte em espaços de troca de
experiência entre os produtores rurais, a partir da evidência da sustentabilidade que oferecem”, completa a pesquisadora.
“A combinação de pó de rocha com matéria orgânica faz acelerar a disponibilização de nutrientes, criando um
sistema fechado de fertilidade”, geólogo Marcos Domingues Muro
Neste sentido, a Embrapa também lidera iniciativas que unem ciência e tecnologia para a produção e uso eficiente de nutrientes. Para Gisele, o Brasil ocupa posição de vanguarda mundial. “É o país que mais pesquisa e publica sobre os REM e agrominerais silicáticos no mundo. O tema é desafiador, pois é inerentemente multidisciplinar, abarcando diversas áreas de conhecimento. Hoje existe um consenso da necessidade de estudos mais longos, pois a eficiência dos REM depende de processos biológicos ativos e de boas práticas de manejo”, explica.
Não é à toa que São Paulo se sobressai. Sua diversidade geológica — caso da formação Serra Geral, conjunto de
rochas vulcânicas no noroeste paulista — e força agrícola, unida à capacidade de estimular articulações e soluções que abranjam a difusão de ciência e pesquisa, pode consolidar a adoção de práticas regenerativas mais econômicas. Especialmente por meio da ação conjunta com profissionais da área tecnológica capazes de transformar o potencial dos agrominerais silicáticos em soluções para auxiliar na segurança alimentar, na redução de consumo externo de fertilizantes e na sustentabilidade.
Segundo Alessandra, esse contexto, aliado à demanda agrícola, cria condições únicas para que o Estado seja protagonista na consolidação do uso de REM no Brasil. “É uma posição estratégica para liderar o uso de remineralizadores”, ressalta.
“A pesquisa é pouco valorizada no Brasil e, sem ela, não se criam aplicações de remineralizadores com sucesso que motivem os empresários a investir”. Engenheiro de Minas José Renato Baptista de Lima
O Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) 2022-2050 é uma política pública estratégica do governo brasileiro, instituída pelo Decreto nº 10.991, de 11 de março de 2022, com o objetivo principal de reduzir a alta dependência externa do país em relação aos insumos para nutrição de plantas.
A meta mais citada do PNF é reduzir a dependência de importações de fertilizantes do Brasil de cerca de 85% para 45% até 2050.
O plano é guiado por cinco diretrizes principais:
Modernização, Reativação e Ampliação das plantas industriais e dos projetos de fertilizantes existentes no País. Melhoria do Ambiente de Negócios para atração de investimentos na cadeia de fertilizantes e nutrição de plantas. Promoção de Vantagens Competitivas para a cadeia de produção brasileira no cenário mundial.
Ampliação dos Investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) e no desenvolvimento da cadeia de fertilizantes e nutrição de plantas. Adequação da Infraestrutura para a integração de polos logísticos e a viabilização de novos empreendimentos.
Além da redução da dependência externa, o plano visa:
Segurança Alimentar: Garantir o suprimento contínuo e adequado de nutrientes para o agronegócio, sustentando a produção de alimentos para o país e o mundo.
Sustentabilidade: Estimular o uso eficiente de nutrientes, o desenvolvimento de fertilizantes orgânicos, organominerais, bioinsumos e remineralizadores (pó de rocha), promovendo a sustentabilidade na cadeia.
Estímulo à Mineração: Fomentar a pesquisa, a exploração e a transformação de minerais essenciais para a produção nacional de potássio, fósforo e nitrogênio.
O PNF-2050 criou o Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas (CONFERT), um órgão consultivo e deliberativo, responsável por coordenar e acompanhar a implementação do Plano e de suas revisões periódicas. Em resumo, o PNF-2050 é a estratégia de longo prazo do Brasil para garantir a autonomia, a segurança e a sustentabilidade da agricultura através da otimização de sua cadeia de produção, distribuição e uso de fertilizantes.
Fonte: Crea SP – visite o site oficial www.creasp.org.br
Institui o Plano Nacional de Fertilizantes 2022-2050 e o Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso VI, alínea “a”, da Constituição,
D E C R E T A :
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º Fica instituído o Plano Nacional de Fertilizantes – PNF 2022-2050, com as diretrizes e os objetivos estratégicos estabelecidos neste Decreto.
CAPÍTULO II
DO PLANO NACIONAL DE FERTILIZANTES
Art. 2º São diretrizes do PNF 2022-2050:
I – a modernização, a reativação e a ampliação das plantas industriais e dos projetos de fertilizantes existentes no País;
II – a melhoria do ambiente de negócios no País para atração de investimentos para a cadeia de fertilizantes e nutrição de plantas;
III – a promoção de vantagens competitivas na cadeia de produção mundial de fertilizantes para o País;
IV – a ampliação dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação e no desenvolvimento da cadeia de fertilizantes e nutrição de plantas do País; e
V – a adequação da infraestrutura para a integração de polos logísticos e a viabilização de novos empreendimentos.
Art. 3º São objetivos estratégicos do PNF 2022-2050:
I – estimular a pesquisa, a exploração e a transformação mineral;
II – contribuir para a construção de um ambiente de negócios estável e duradouro no País e para a atração de investimentos na exploração, na transformação, no desenvolvimento e na distribuição de fertilizantes e insumos para nutrição de plantas;
III – promover o aumento da competitividade da produção nacional e o aprimoramento da sua integração ao mercado internacional;
IV – buscar o aumento da eficiência da produção nacional de fertilizantes e insumos para nutrição de plantas e dos produtos importados, em comparação com os melhores modelos mundiais;
V – contribuir para a melhoria da logística de distribuição no País e para a interiorização da distribuição e da assistência técnica, incluídos os investimentos em infraestrutura e na redução dos custos de transporte e armazenamento de fertilizantes;
VI – buscar a adoção de um modelo de governança pública que garanta a coordenação, o alinhamento de políticas e ações e a perenidade de planos e programas de Estado para o setor;
VII – incentivar a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação para o setor, com foco no aumento da eficiência do uso de nutrientes, na adaptação dos vegetais a baixos teores de nutrientes e em fertilizantes e insumos para nutrição de plantas de maior valor agregado;
VIII – estimular o aprimoramento das normas relacionadas à cadeia de produção e distribuição de fertilizantes e insumos para nutrição de plantas;
IX – fomentar a capacitação de recursos humanos para o desenvolvimento da cadeia de fertilizantes e nutrição de plantas; e
X – promover a estabilidade de normas para o setor de fertilizantes e insumos para nutrição de plantas, com previsibilidade para o investidor e garantia de segurança jurídica.
Art. 4º Os planos, programas e ações de Governo com impacto sobre a cadeia de fertilizantes e nutrição de plantas deverão observar as diretrizes e os objetivos estratégicos estabelecidos neste Decreto.
CAPÍTULO III
DO CONSELHO NACIONAL DE FERTILIZANTES E NUTRIÇÃO DE PLANTAS
Art. 5º Fica instituído o CONSELHO NACIONAL DE FERTILIZANTES E NUTRIÇÃO DE PLANTAS – CONFERT, órgão consultivo e deliberativo, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Art. 6º Ao CONFERT compete:
I – aprovar o PNF 2022-2050 e suas revisões periódicas e estabelecer orientações para sua implementação;
II – editar normas complementares para a implementação do PNF 2022-2050;
III – monitorar e avaliar a implementação do PNF 2022-2050;
IV – promover a articulação entre órgãos e entidades públicas e privadas com atuação no setor de fertilizantes e insumos para nutrição de plantas;
V – propor mecanismos para estimular a competitividade, a sustentabilidade e a inovação no setor de fertilizantes e insumos para nutrição de plantas;
VI – promover a coordenação de ações e projetos, inclusive no âmbito do Programa de Parcerias de Investimentos – PPI;
VII – propor e estimular a adoção de medidas para o aumento da capacidade de produção, exploração, transformação e distribuição de fertilizantes e insumos para nutrição de plantas no País;
VIII – aprovar o seu regimento interno;
IX – disseminar as políticas, os planos e as ações relativos ao campo de fertilizantes e insumos para nutrição de plantas, dentre os quais os resultados obtidos pelo CONFERT e pelo PNF 2022-2050; e
X – propor estratégias de atração de investimentos para a produção de fertilizantes no País.
Art. 7º O CONFERT é composto por Plenário, Comitê Executivo e Câmaras Técnicas.
… (Os artigos seguintes detalham a composição do CONFERT, as competências do Comitê Executivo e das Câmaras Técnicas, e regras de funcionamento. Artigos 8º, 9º e 10º foram alterados e partes revogadas por decretos posteriores, mantendo a estrutura de governança do PNF).
CAPÍTULO IV
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 17. As despesas decorrentes da implementação do PNF 2022-2050 correrão à conta das dotações consignadas aos Ministérios responsáveis pela execução das ações previstas neste Decreto e nas resoluções do CONFERT, respeitada a disponibilidade financeira e orçamentária.
Art. 18. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 11 de março de 2022; 201º da Independência e 134º da República.
A Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos (AEA) de Marília e Região anunciou dia 27 de outubro de 2025, os três nomes que receberão o título de Profissionais do Ano de 2025. Os escolhidos são o engenheiro civil Eduardo Robson Raineri de Almeida, o engenheiro agrônomo Pedro Henrique Lorenzetti Losasso e a arquiteta Flávia Fernandes Ohoseki. Os homenageados foram eleitos pelos associados da entidade por se destacarem em suas respectivas áreas de atuação.
Os três serão agraciados com o Troféu Profissional do Ano em uma cerimônia especial, o Jantar dos Profissionais do Ano, no próximo dia 8 de novembro. O processo de escolha dos homenageados é realizado por meio de votação entre os associados da AEA, e a homologação é feita por uma comissão formada por profissionais já premiados em edições anteriores.
“A homenagem aos profissionais do ano é feita desde 1992 e representa um reconhecimento dos colegas aos profissionais que se destacam”, afirmou o presidente da AEA, engenheiro civil Vitor Violante. O primeiro profissional a receber esta honraria foi o engenheiro civil Archimedes de Grande. Já no início dos anos 2000, a entidade ampliou a premiação, passando a homenagear três profissionais: um arquiteto, um agrônomo e um engenheiro (das demais áreas da engenharia).
Os profissionais eleitos expressaram satisfação com o reconhecimento. O engenheiro Eduardo Almeida, fundador da Pacaembu Construtora, e responsável por obras relevantes que moldaram o desenvolvimento urbano de Marília (como o Centro Cultural, o bairro Jardim Lavínia e o Terminal Urbano), destacou o significado local da honraria. “Fiquei muito feliz e honrado com a homenagem porque aqui fiz grandes amigos e aprendi muito. Tudo que aprendi como gestor, administrador, foi em Marília”, contou.
Por sua vez, o engenheiro agrônomo Pedro Losasso, cafeicultor em Vera Cruz e Garça e professor universitário, ressaltou seu compromisso com a área. “Me sinto muito lisonjeado por ser escolhido por meus pares. Sempre acreditei na agronomia trabalhando junto com a tecnologia e também voltada para preservação do meio ambiente”, disse Losasso, que é formado e mestre pela Unimar (Universidade de Marília) e integra a Câmara de Agronomia do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia).
Já a arquiteta Flávia Ohoseki, que montou seu escritório em Marília há quase dez anos, expressou surpresa e alegria pela homenagem. “Foi muito emocionante saber da homenagem. Amo e produzo no nosso trabalho em Marília, onde buscamos produzir projetos que sejam referência para cidade. Assim que cheguei a Marília me associei à AEA, fui muito bem recebida”, concluiu a arquiteta. Flávia Ohoseki é formada pela Universidade São Judas.
A dama da Engenharia
Lígia Mackey, a primeira mulher a presidir o maior Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da América Latina em nove décadas, fala ao Marília Notícia sobre a força feminina na liderança, a revolução da inteligência artificial no setor e os desafios de representar mais de 380 mil profissionais no estado de São Paulo
por Ramon Barbosa Franco, @ramonbarbosafranco
Em um grande salão que a engenharia ajudou a erguer em Marília, Lígia Mackey, engenheira civil de formação e dinâmica na gestão, palestrou na terça-feira, dia 14 de outubro de 2025, para uma plateia formada majoritariamente por estudantes universitários. Muitas mulheres – acadêmicas e profissionais – ocupavam as poltronas reservadas para a programação teórica do Crea Day, um dia totalmente dedicado ao detalhamento das funções práticas de um conselho de classe. Em 90 anos de história, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo – o maior da América Latina e um dos maiores do mundo – é presidido por uma mulher. Formada em Engenharia Civil, com sua base de vida e trabalho em Rio Claro, no Interior de São Paulo, Lígia Mackey substituiu o engenheiro de telecomunicações, Vinicius Marchese à frente do Crea, recebendo quase 70% dos votos válidos.
Lígia rompeu uma barreira histórica: é a primeira mulher a empunhar o bastão de comando do órgão. Sua ascensão, um marco que ecoa nos corredores da academia e nos canteiros de obra, não é apenas uma vitória pessoal, mas um farol que ilumina a crescente força feminina em um campo tradicionalmente masculino. Com a precisão de um projeto bem elaborado e a paixão de quem vive a engenharia há mais de três décadas, Lígia Mackey discute a revolução silenciosa da mulher líder, a essencialidade do associativismo e como a tecnologia está redefinindo o futuro da profissão. Em uma entrevista exclusiva ao Marília Notícia, ela equilibra experiência técnica e visão estratégica, demonstrando que a capacidade, de fato, não tem gênero, apenas o inabalável peso da competência
Marília Notícia: A sua posse como a primeira mulher a presidir o Crea-SP em nove décadas de existência do órgão é um evento histórico. Qual é o significado desse marco para a sua carreira e para a representatividade feminina em um setor ainda dominado por homens?
Lígia Mackey: A capacidade não tem gênero. Cada vez mais, as mulheres estão se especializando, se atualizando e ocupando, de forma crescente, cargos de liderança. E eu fico muito feliz com isso, em ser a primeira mulher a presidir o maior conselho de classe da América Latina, pois inspira outras mulheres a liderar. É uma honra, enquanto profissional de engenharia civil atuante, representar toda a minha classe no estado de São Paulo – são mais de 380 mil profissionais e mais de 100 mil empresas. É um trabalho desafiador, mas que me deixa imensamente feliz e honrada. Meu desafio é sempre trazer inovações e melhorar a vida do profissional. Tenho 31 anos de formada e vivo a engenharia no dia a dia. É um desafio duplo poder representar nossos amigos e colegas de profissão e, ao mesmo tempo, trazer novidades, inovações e melhorar a vida do profissional, já que eu também sou usuária dos serviços do Conselho. Por isso, reafirmo: a capacidade não tem gênero. Trabalhamos arduamente para entender a necessidade do profissional e atendê-lo da melhor forma.
Marília Notícia: O Crea Day é uma iniciativa voltada para os estudantes. Qual é o propósito central deste evento e como ele busca preparar os futuros profissionais da área?
Lígia Mackey: O Crea Day foi idealizado para que os universitários vivam o Conselho. Realizamos o evento em uma associação de classe, o que é fundamental para que eles conheçam o associativismo e enxerguem a importância da profissão. Se não estivermos unidos, não vamos a lugar nenhum. O associativismo converge com o que sempre buscamos: estarmos unidos por um conselho melhor. O Crea Day é um momento crucial para que eles conheçam o conselho, para que participem de uma associação, acompanhem uma fiscalização e tenham uma visão geral sobre o que é o conselho de classe ao qual farão parte assim que se formarem.
Marília Notícia: A Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) é um documento crucial para a engenharia. Diante da fiscalização, qual a importância de o profissional estar registrado e qual o seu posicionamento sobre a venda irregular de ARTs?
Lígia Mackey: É essencial que, ao se formar, o profissional se registre. Por lei, e não por uma criação da Lígia, uma legislação de 1966 regulamenta que qualquer trabalho de engenharia deve ter um profissional habilitado, alguém que estudou, saiba fazer e, principalmente, esteja registrado no Conselho. Em caso de sinistro, como o desabamento de uma obra, por exemplo, não agimos imediatamente contra o profissional. Hoje, todo trabalho de engenharia precisa ser acompanhado de uma ART, a Anotação de Responsabilidade Técnica. Este documento comprova à sociedade que há um profissional habilitado ali. No entanto, ainda vemos muitos casos de venda de ART. Quando o profissional assina a ART, ele assume o compromisso de que está apto a realizar aquele trabalho. Vender a ART é, na prática, um comércio ilegal, pois ele está vendendo um documento que atesta a sua capacidade. Se houver qualquer problema ou sinistro com o serviço ‘vendido’, a responsabilidade é dele. Por isso, fiscalizamos rigorosamente a venda de ART e de serviços. O profissional precisa ter ciência de que é o responsável técnico por aquilo. Para apoiar o trabalho, hoje temos 36 unidades de coworking no estado de São Paulo, que o profissional registrado e em dia com o sistema pode acessar gratuitamente mediante agendamento. Temos essas unidades nos 645 municípios e, em breve, teremos um coworking em Marília.
Marília Notícia: Em breve, será inaugurada uma unidade de coworking em Marília. Qual a sua expectativa sobre o impacto dessa nova estrutura na atuação dos engenheiros e agrônomos da região?
Lígia Mackey: É uma iniciativa muito boa, pois Marília é uma localidade com muitos profissionais e a associação local é bastante atuante. Com certeza, o coworking de Marília agregará ainda mais valor aos profissionais da cidade e da região. Espero, em breve, vir aqui fazer a inauguração, se Deus quiser.
Marília Notícia: A Inteligência Artificial é um tema incontornável em todas as áreas. Como o Crea-SP está lidando com a IA e quais são os desafios e oportunidades que ela apresenta para o setor de engenharia?
Lígia Mackey: Dentro do próprio Conselho, já estamos implementando a IA para que ela seja utilizada de forma correta e saudável. Temos promovido muitos treinamentos, inclusive para os nossos conselheiros, nos relatórios de processo e também na área de atendimento. Implementamos várias frentes utilizando a IA, mas como dizia o presidente anterior do Confea, Vinicius Marchese, não temos que ter medo da IA; temos que ter medo de quem não sabe lidar com ela.
Marília Notícia: Exatamente. O desafio, então, é dominá-la?
Lígia Mackey: Exatamente. É conseguir entender o seu funcionamento e usar o melhor que ela pode nos oferecer para a melhoria do Conselho. E já estamos implementando isso em várias frentes. A IA não substitui o ser humano de forma alguma. Ela é uma ferramenta para facilitar a nossa vida. O engenheiro continua com o papel preponderante à frente da inteligência.
Marília Notícia: Como a associação local atua como um braço do Crea-SP e qual é o papel dos profissionais de engenharia e agronomia na construção e resolução dos desafios das comunidades, em sintonia com o poder público?
Lígia Mackey: A associação acaba sendo um braço do Crea, onde conseguimos chegar aos profissionais da região. Eu fico em São Paulo, sou de Rio Claro, mas não consigo enxergar toda a demanda dos profissionais de uma cidade como Marília, por exemplo. É importante que eles tragam essas demandas. Quanto à atuação junto ao poder público, em 2025 realizamos quatro etapas de Fóruns de Políticas Públicas, onde convidamos não só o pessoal do Crea, mas também o poder público e a sociedade em geral, para que entendam o papel do engenheiro e do agrônomo nesse contexto de ajudar as cidades a resolverem seus problemas. É fundamental que eles tragam toda a parte técnica, todo o conhecimento, para auxiliar as prefeituras e as cidades. Os problemas são muito parecidos em todo o estado — mobilidade, saneamento, sustentabilidade —, mas eu, como moradora de Rio Claro, não consigo entender a necessidade específica de Marília. Os profissionais que vivem aqui conseguem visualizar e, o que é melhor, conseguem trazer soluções técnicas para melhorar a cidade e dar qualidade de vida à população.
Marília Notícia: A engenharia foi, por muito tempo, dominada por homens, mas hoje vemos um aumento na participação feminina, inclusive nas universidades. Que mensagem a senhora deixa para as jovens mulheres acadêmicas?
Lígia Mackey: Olhe, é um caminho que não é fácil, a engenharia é uma profissão difícil, mas quando eu me formei, o número de mulheres era bem menor do que o que temos hoje. Buscamos no Conselho oferecer treinamento e capacitação para que as mulheres estejam preparadas. Eu costumo dizer que precisamos ter a oportunidade e, quando ela chega, temos que estar preparadas para ela. É isso que oferecemos. Portanto, a mensagem é para elas não desistirem, para estudarem, se capacitarem e colocarem toda a sua capacidade técnica no mercado, porque nós precisamos delas. E venham para o Crea também. Incentivamos muito a vinda de novas lideranças, principalmente lideranças femininas, para o Conselho.
(Reportagem publicada pelo portal de notícias Marília Notícia, em 19 de outubro de 2025,https://marilianoticia.com.br/a-capacidade-nao-tem-genero-afirma-a-primeira-mulher-a-presidir-o-crea-sao-paulo-ligia-mackey/ )